Escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária

Na primeira parte deste texto Personagens: os alicerces da história, apresentamos algumas considerações iniciais sobre a importância, consistência e construção de personagens.

Continuamos esse debate com o propósito de oferecer mais informações e técnicas para você ficar mais seguro na hora de pensar e construir o grupo de personagens que darão vida à sua história.


Protagonista ou personagens centrais?

Embora ainda seja muito comum se falar em protagonista nas narrativas de ficção, o termo (e o que ele implica) exige grandes responsabilidades.

Pois se admitimos que nosso texto literário tem um protagonista será necessário criar, também, seu antagonista. O risco, como nos adverte o professor Assis Brasil, em seu livro Escrever Ficção, é criar narrativas pobres.

Por essa e outras razões, pensar em personagens centrais pode ser mais produtivo em um texto literário. A esses personagens devotamos nossas melhores energias literárias para quem sejam consistentes.

O principal papel dos personagens coadjuvantes é que eles sejam relevantes no contexto do conflito da obra.

Podemos, em um trabalho conjunto com quem nos lê, deixar para os leitores intuir quais são os dramas e dilemas pessoais dos coadjuvantes, sem prejuízo estético da obra.


Livro e escrita criativa
Pixnio / Creative Commons

Descrição de personagens

Há muitas formas de “inserir” um personagem na história. Inclusive abrir uma narrativa de ficção pelo personagem, isto é, apresentar a um só tempo o que vai ser narrado e o personagem principal. Fisgue o leitor, é uma boa chance!

Chuck Palahniuk, autor, dentre outros livros, de Clube da luta, ensina que é melhor o escritor colocar os personagens a fazerem coisas que “pensarem” coisas. Então colocar personagens “em ação” é sempre uma boa estratégia para prender leitores.

Mas esta seção do texto é sobre descrição de personagens, porém até agora não veio nenhuma dica nesse sentido? Isso porque a descrição de personagem deve ser feita com a máxima moderação e, preferencialmente, quando tem função narrativa na ficção.

Qual a melhor descrição física de personagens?

A melhor descrição física de personagens é aquela feita pelo leitor. É triste, meu caro escritor, você denota toda sua energia e é o leitor que leva os louros? Sim, mas, lembre-se que você é, antes de tudo, também um leitor.

Isso não deve servir para desencorajar escritores na tarefa de apresentar seus personagens, mas, sim, para focar a escrita em descrições que sejam duplamente precisas, isto é, ajustadas à narrativa e no alvo dos sentidos que se pretende atingir.


Efeitos narrativos na descrição de personagens

Conheça alguns efeitos narrativos que podem funcionar com os personagens de sua narrativa de ficção.

Descrever o personagem pelo que não é

Pode parecer estranho, mas dizer de um personagem o que ele não é pode ser uma boa alternativa. Além de ampliar as possibilidades de criação dos leitores, você pode, a certa altura do texto, trazer elementos que mostram quem ele realmente é.

Como tratar personagens lacônicos e tagarelas

Diálogos em literatura de ficção são sempre mais complexos de se compor que um olhar apressado sugere (mas isso é tema para outro post). E os próprios diálogos são boas alternativas para apresentar personagens.

Aos personagens mais pensativos e lacônicos suas falas têm pesos importantes na narrativa, costumam (e devem) ser carregadas de sentidos.

Já os falastrões, pela quantidade de coisas que dizem, falam muitas bobagens, então é melhor apresentá-los a partir do que os outros pensam sobre o que eles dizem.

Personagens coadjuvantes com papeis chaves no enredo

Personagem coadjuvante não significa personagem desimportante. Embora você não vá desenvolvê-lo de forma mais ampla, apresentando suas motivações e conflitos, ele pode ser fundamental para a sua história.

Esse é o papel de Jorge Burgos, monge bibliotecário cego em O nome da Rosa, de Umberto Eco, que envenena um livro, mas que, depois, morre envenenado por tê-lo comido. Ele é importante na trama policial.

Nestes casos, os coadjuvantes não estão ligados ao conflito da obra e de seus personagens centrais, mas ajudam a contextualizar o enredo.

Afinal, quem são os personagens principais na narrativa ficcional

Os personagens principais na narrativa ficcional são aqueles mais suscetíveis ao conflito da obra. É nesse sentido que pensar para além do protagonista e antagonista é uma alternativa mais rica, pois abre mais caminhos à nossa história.


Pessoa escrevendo em um bloco de notas no campo
Imagem Pixnio / Creative Commons

Desafio de literatura 2021: envie suas resenhas e ganhe prêmios

Conhece o Desafio de literatura 2021 do site Frizero? Você pode publicar sua resenha literária em nossa página e de quebra ganhar o livro  Dostoiévski – Correspondências (1838-1880), do escritor russo que completa duzentos anos de nascimento em 2021. A edição foi traduzida por Robertson Frizero.

A cada mês um desafio diferente. Em janeiro a proposta é ler, justamente, um Romance de Entrenimento. Escolha o seu preferido, lei a envie sua resenha.

Como devo escrever e enviar minha resenha

No mês de fevereiro o desafio é ler Um romance (ou novela literária) de formação.

Para participar basta enviar seu texto para sitefrizero@gmail.com com o assunto [DESAFIO DE LITERATURA – NOME DO PARTICIPANTE].

Lembre-se deixar no formato .doc com a seguinte formatação: Times New Roman, 12, espaçamento 1.5, título e autor no nome do arquivo.

Caso sua resenha seja escolhida para publicação, você receberá um e-mail solicitando dados para o recebimento da premiação.


Roberton Frizero – escritor

Roberson Frizero é escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária. É Mestre em Letras pela PUCRS e Especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS. Sua formação inclui bacharelado em Ciências Navais pela Escola Naval (RJ).

Seu livro de estreia,  Por que o Elvis Não Latiu?, foi agraciado pelo Prêmio CRESCER como um dos trinta melhores títulos infantis publicados no Brasil.

O romance de estreia, Longe das Aldeias, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, do Prêmio Açorianos de Literatura e escolhido melhor livro do ano pelo Prêmio Associação Gaúcha de Escritores – AGES. Foi, por três anos consecutivos, jurado do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro – CBL.


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Roberson Frizero é escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária. É Mestre em Letras pela PUCRS e Especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS. Sua formação inclui bacharelado em Ciências Navais pela Escola Naval (RJ). Seu livro de estreia, Por que o Elvis Não Latiu?, foi agraciado pelo Prêmio CRESCER como um dos trinta melhores títulos infantis publicados no Brasil. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, do Prêmio Açorianos de Literatura e escolhido melhor livro do ano pelo Prêmio Associação Gaúcha de Escritores – AGES. Foi, por três anos consecutivos, jurado do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro – CBL.

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