Escrevendo o máximo com o mínimo
Robertson Frizero
A Literatura Minimalista ou Microliteratura é uma novidade de dois mil e seiscentos anos de existência… A ideia de contar histórias em textos brevíssimos já aparecia nas famosas fábulas de Esopo, em alguns dos contos das Mil e Uma Noites e mesmo alguns excertos da Bíblia podem ser vistos como narrativas curtas muito próximas ao fenômeno que, a partir da metade do século XX, ganhou força renovada com autores como o guatemalteco Augusto Monterosso – autor, aliás, do mais famoso microconto. Mas o que surgiu como um desafio autoimposto pelos escritores, interessados em testar sua capacidade de contar uma história com o mínimo possível de palavras, ganhou um renovado interesse e visibilidade nos dias atuais com o avanço da tecnologia de comunicação e o advento das redes sociais. A velocidade do nosso tempo parece pedir justamente a brevidade e celeridade da Microliteratura.
Mas, o que é considerado um microtexto, afinal? Em um primeiro olhar, sua mais visível característica é o tamanho reduzido. A microliteratura, porém, não é marcada apenas pela brevidade. No caso da prosa, em especial, é essencial que o texto apresente narratividade, ou seja, seja capaz de contar uma história. Para tal, é imprescindível que o microconto ou o miniconto tragam um forte subtexto, uma história oculta por trás da história aparente. O microtexto precisa ir além da frase de efeito e sugerir uma reflexão mais profunda a partir do que é exposto pelo texto escrito – do contrário, acaba-se recaindo no slogan publicitário, na piada breve, na frase espirituosa, mas sem oferecer ao leitor alimento para a alma. As próprias denominações de miniconto, microconto e nanoconto – que ainda não têm um padrão estabelecido quanto ao número de palavras e caracteres – carregam em si o termo “conto”, o que encaminha para a necessidade de que haja ali um enredo.
A Microliteratura é um excelente exercício para os escritores. Ao praticá-la, ganha-se em capacidade de síntese e lapidação textual, eliminando excessos e buscando construções frasais e escolhas vocabulares que permitam dizer mais com menos recursos. E existe, sim, espaço para essa Literatura Minimalista no mercado editorial. Vários autores têm publicados livros de microcontos e de formas poéticas breves, como os haicais e limeriques – que também são Microliteratura – e as redes sociais são muito receptivas ao formato: os leitores estão muito abertos a receber essas pequenas “pílulas” de literatura em meio à correria do cotidiano. Pensando no alcance que as redes sociais têm na sociedade atual, os autores de Literatura Minimalista acabam prestando um ótimo serviço de divulgação da Literatura.
Um bom exemplo disso é o projeto Literatura Mínima, que tenho o privilégio de coordenar. Baseado na rede social Instagram, ele surgiu da necessidade de manter meus ex-alunos produzindo textos – e a Microliteratura mostrou-se muito apropriada para esse propósito, já que exige menos tempo para a produção de textos e oferece um formato bastante favorável à divulgação e construção coletiva de conhecimento. Os textos são produzidos a partir de desafios lançados ao grupo e publicados primeiramente para os próprios colegas, que opinam e sugerem alterações. Depois, o texto é publicado na rede social, para apresentação aos leitores em geral. Com menos de quatro meses de existência, o perfil já tem cerca de quinhentos textos publicados e quatrocentos seguidores – um feito para um perfil que publica apenas textos literários e não tem divulgação impulsionada, nem pretende ter algum caráter comercial. São autores criativos criando textos geniais e acolhidos por leitores que compartilham a mesma paixão pela Microliteratura.
Literatura mínima
O Literatura Mínima é um projeto aberto a todos os escritores. Nasceu com o intuito de divulgar boa Literatura Minimalista e não teria sentido recusar a participação de autores que não pertencem ao coletivo. O objetivo é ser uma plataforma para novos talentos; por isso, qualquer um pode enviar textos, desde que eles se encaixem em um dos desafios propostos a cada semana. Outro ponto positivo é que nem todos os textos enviados são publicados; é feita uma curadoria e, sempre que possível, é dado um retorno aos autores, com sugestões de como melhorar seus textos. Em outras palavras, quem é publicado no Literatura Mínima tem a certeza de que seu texto foi avaliado e escolhido por ter qualidade para estar no projeto. A primeira antologia de textos do projeto Literatura Mínima está sendo preparada para publicação e a qualidade incrível dos textos lançados por essa iniciativa será a grande resposta aos que ainda duvidam do potencial dessa Literatura de textos brevíssimos.
A Microliteratura, em verdade, pode ser uma ótima porta de entrada para novos autores nesse amplo universo da Literatura. Todas as pessoas têm histórias para contar. E é possível aprender o artesanato da escrita literária — as técnicas que outros escritores usaram para contar suas histórias, os recursos que funcionam ou não, as ferramentas que podemos usar para desenvolver um texto literário. O “olhar de escritor” sobre o mundo — essa capacidade de olhar para a realidade e usar as palavras não apenas para descrever o que foi visto, mas fazer o leitor sentir aquilo que você quer que ele sinta sobre o que foi visto – é o que cada escritor precisa descobrir por conta própria, seja pela leitura, pela experiência de vida, pela observação do mundo. E os microtextos são um ótimo laboratório de experimentação. Que tal começar?
Clube de criação literária
O Clube de Criação Literária é uma dessas ações de mecenato coletivo – neste caso, em favor do escritor e tradutor Robertson Frizero. Mas, como o próprio nome sugere, é uma ação de mecenato que traz, também, uma ideia inovadora no campo da formação continuada em Escrita Criativa.
Associando-se ao Clube, o participante colabora com o mecenato coletivo e tem acesso a conteúdo exclusivo sobre Criação Literária:
- Material didático, artigos e resenhas de livros de interesse na área de Criação Literária;
- Reuniões on-line e debates sobre Criação Literária, Literatura e Mercado Editorial;
- Vídeos, áudios, apresentações e sessões de mentoria literária em grupo;
- Sorteios mensais de livros e serviços de mentoria literária individual e leitura crítica.
Desafio de literatura 2021: envie suas resenhas e ganhe prêmios
Conhece o Desafio de literatura 2021 do site Frizero? Você pode publicar sua resenha literária em nossa página e de quebra ganhar o livro Dostoiévski – Correspondências (1838-1880), do escritor russo que completa duzentos anos de nascimento em 2021. A edição foi traduzida por Robertson Frizero.
Como devo escrever e enviar minha resenha
No mês de junho o desafio é ler um romance policial escrito por uma autora brasileira.
Para participar basta enviar seu texto para sitefrizero@gmail.com com o assunto [DESAFIO DE LITERATURA – NOME DO PARTICIPANTE].
Lembre-se deixar no formato .doc com a seguinte formatação: Times New Roman, 12, espaçamento 1.5, título e autor no nome do arquivo.
Caso sua resenha seja escolhida para publicação, você receberá um e-mail solicitando dados para o recebimento da premiação.
Robertson Frizero
Robertson Frizero é escritor, tradutor e professor de Criação Literária. Sua primeira oficina foi lançada em 2011, e desde então se manteve em atividade contínua, entre oficinas, cursos, palestras e mentorias literárias. Foi jurado do Prêmio Jabuti de Literatura por três anos consecutivos e jurado do Prêmio Açorianos de Literatura. É Mestre em Letras pela PUCRS e especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS.
Frizero é autor de romances e livros infantis premiados, e já publicou também poesia, contos e textos teatrais. Seu livro de estreia, o infantil Por que o Elvis Não Latiu? [8INVERSO, 2010], foi agraciado com o Prêmio Crescer. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias [Dublinense, 2015], ganhou o Prêmio AGES de melhor romance do ano pela Associação Gaúcha de Escritores – AGES e foi finalista dos prêmios São Paulo de Literatura e Açorianos de Literatura. Longe das Aldeias foi também escolhido pelo Governo Federal para distribuição à Rede Pública de Ensino no PNDL Literário 2018. Em 2020, Longe das Aldeias foi traduzido para o árabe e publicado no Kuwait e Iraque, com distribuição para todo o mundo árabe.
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