Escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária

Talvez você estranhe o que diremos agora, mas entre o pensamento e a palavra não há distância alguma, pois pensamos na maior parte das vezes por palavras, quer as expressemos ou não.

Mesmo quando pensamos em uma imagem, por exemplo, uma praia paradisíaca, para compreendermos o que ela significa e que sentimentos essa imagem desperta precisaremos de palavras.

O exercício da literatura, nesse sentido, consiste em transferir esses pensamentos que já estão em nossa cabeça para o papel (ou computador, claro) e transformá-los em ficção. O fascinante disso tudo é que os mundos possíveis de nosso pensamento e da literatura são infinitos.

Neste texto apresentamos algumas dicas para transformar suas ideias em histórias. Vem com a gente!

Como transformar ideias em palavras

Escreva. Simplesmente escreva para transformar suas ideias em palavras e, depois de escrito, revise. Uma vez pronta a primeira versão, observe seu texto e, desta vez, comece a aparar as arestas, retire os excessos e lapide.

Para a polidura final, é preciso examinar seu texto naquilo que é invisível, mas que você conhece como ninguém, isto é, sua estrutura. Pergunte-se:

  • Há enredo, isto é, como se organiza começo, meio e fim da narrativa?
  • Qual é o narrador?
  • Qual o clímax?
  • Existe conflito na narrativa?
  • Qual o desfecho?

Essas perguntas ajudarão a construir uma visão mais técnica de sua escrita criativa. Porém, deixe para pensar nisso depois que suas ideias forem para o papel. Essa estratégia ajuda a evitar o bloqueio criativo.

Pessoa prestes a escrever na mesa diante de uma folha em branco
Imagem: Pixabay

Dez dicas para transformar pensamentos e ideias em literatura

Às vezes, quando somos inexperientes em algo, tendemos a ter mais receios e bloqueios. Na literatura não é diferente. Por isso praticar e colocar as ideias no papel é tão importante, pois nos permite perceber os erros e corrigí-los.

Pensando nisso, preparamos algumas dicas que podem ajudar a destravar o bloqueio criativo.

  1. Escreva. Escreva. Escreva. Nem que seja um parágrafo, mas crie o hábito da escrita.
  2. Leia os textos de seus escritores favoritos, mas sempre procure conhecer novos autores, eles podem te inspirar mundos novos e formas de escrita que você jamais imaginou.
  3. Fuja da obsessão perfeccionista. O importante, incialmente, é escrever e depois ir lapidando como descrevemos no tópico acima.
  4. Depois de escrever verifique se na estrutura interna de seu texto há os elementos básicos para tornar uma narrativa em prosa uma narrativa de fato: enredo, protagonista, clímax, conflito e desfecho (lembre-se o desfecho não é, necessariamente, a solução do conflito).
  5. Se você pensou em um tema, mas está como medo de escrever sobre ele, escreva mesmo assim. Se ficar bom, ótimo, uma história nova. Se não ficar tão bom, ajuste, conserte e lapide. Ele pode ficar bom sim, mas é preciso, antes de tudo, dar vida a ele.
  6. Assim como quando você come um prato delicioso – nem muito doce, nem muito salgado, mas na medida – tempere suas histórias e seus personagens. Evite criar modelos polares, como se o mal e o bem pertencessem, exclusivamente, a vilões e mocinhos. Torne seus personagens humanos, construa-os ambíguos e os transforme em sujeitos “reais”.
  7. Seu texto, suas regras. Quando se diz que em literatura você pode construir o mundo que quiser, não significa que se pode construir qualquer mundo, de qualquer jeito. O texto ficcional deve ter uma coerência interna e, portanto, regras próprias dentro do seu mundo. Isso se chama verossimilhança, o que é fundamental para dar coesão à sua história.
  8. Leia como um escritor. Isso implica adquirir o hábito de ler outros autores buscando neles a estrutura de suas narrativas. É claro que não estamos sugerindo que você perca o prazer da leitura, mas que acrescente uma camada a “mais” à sua experiência de leitor. Isso o ajudará na tarefa de escritor.
  9. Está inseguro se seus textos são bons o suficiente para serem publicados? Então participe de concursos literários e de seleções para antologias, esse pode ser um bom termômetro. Mas atenção, tenha cuidado com aqueles certames que pedem dinheiro adiantado ou coisas do tipo. Esteja atento a bons concursos e evite cair em golpes. Há uma série de concursos de instituições públicas e gratuitos que, inclusive, oferecem premiações em dinheiro.
  10. Compreenda. Uma vez publicado o seu texto, ele pertence ao mundo. Aos leitores caberá ler, avaliar, gostar ou não. Todo mundo tem o direito de amar ou detestar sua narrativa (o que não significa que as pessoas possam ser grosseiras com você). Então, lide com esses altos e baixos da recepção da melhor maneira possível. Se alguém não gostou de seu texto de ficção, compreenda que talvez aquele tipo de literatura não era para aquele leitor, simples assim. Não há porquê sofrer.  
Ilustrações alusivas à literatura
Imagem: Wikimedia Commons

Desafio de literatura 2021: envie suas resenhas e ganhe prêmios

Conhece o Desafio de literatura 2021 do site Frizero? Você pode publicar sua resenha literária em nossa página e de quebra ganhar o livro  Dostoiévski – Correspondências (1838-1880), do escritor russo que completa duzentos anos de nascimento em 2021. A edição foi traduzida por Robertson Frizero.

Como devo escrever e enviar minha resenha

No mês de junho o desafio é ler um romance escrito por um dos seguintes escritores contemporâneos brasileiros: Eda NagayamaEduardo KrauseHenrique SchneiderItamar Vieira JúniorJúlio Ricardo da RosaJúlia DantasMaria Valéria RezendeMichel LaubPaulo Scott e Rafael Gallo.

Para participar basta enviar seu texto para sitefrizero@gmail.com com o assunto [DESAFIO DE LITERATURA – NOME DO PARTICIPANTE].

Lembre-se deixar no formato .doc com a seguinte formatação: Times New Roman, 12, espaçamento 1.5, título e autor no nome do arquivo.

Caso sua resenha seja escolhida para publicação, você receberá um e-mail solicitando dados para o recebimento da premiação.


Robertson Frizero

Retrato de Robertson Frizero
Robertson Frizero

Robertson Frizero é escritor, tradutor e professor de Criação Literária. Sua primeira oficina foi lançada em 2011, e desde então se manteve em atividade contínua, entre oficinas, cursos, palestras e mentorias literárias. Foi jurado do Prêmio Jabuti de Literatura por três anos consecutivos e jurado do Prêmio Açorianos de Literatura. É Mestre em Letras pela PUCRS e especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS.

Frizero é autor de romances e livros infantis premiados, e já publicou também poesia, contos e textos teatrais. Seu livro de estreia, o infantil Por que o Elvis Não Latiu? [8INVERSO, 2010], foi agraciado com o Prêmio Crescer. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias [Dublinense, 2015], ganhou o Prêmio AGES de melhor romance do ano pela Associação Gaúcha de Escritores – AGES e foi finalista dos prêmios São Paulo de Literatura e Açorianos de LiteraturaLonge das Aldeias foi também escolhido pelo Governo Federal para distribuição à Rede Pública de Ensino no PNDL Literário 2018. Em 2020, Longe das Aldeias foi traduzido para o árabe e publicado no Kuwait e Iraque, com distribuição para todo o mundo árabe.


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Roberson Frizero é escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária. É Mestre em Letras pela PUCRS e Especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS. Sua formação inclui bacharelado em Ciências Navais pela Escola Naval (RJ). Seu livro de estreia, Por que o Elvis Não Latiu?, foi agraciado pelo Prêmio CRESCER como um dos trinta melhores títulos infantis publicados no Brasil. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, do Prêmio Açorianos de Literatura e escolhido melhor livro do ano pelo Prêmio Associação Gaúcha de Escritores – AGES. Foi, por três anos consecutivos, jurado do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro – CBL.

11 COMMENTS

  1. Maravilhoso sempre gostei de escrever o que penso, e não sabia que seria a melhor forma de escrever um texto, grata por essas dicas professor.
    Um grande abraço

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