Escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária

Natal na literatura: dez dicas de obras que retratam o espírito natalino

Preparamos, especialmente para vocês leitores, este especial Natal na literatura: dez dicas de obras que retratam o espírito natalino. Conheça essas leituras e se inspire para seus textos de escrita criativa.

Neste artigo você encontrará sinopses e trechos de livros e contos especialmente selecionados e com curadoria de Robertson Frizero. Aproveite este passeio pela literatura e deleite-se com a riqueza de olhares sobre o Natal, que sempre nos inspira desejos reflexões e boas expectativas.

Aproveitamos o ensejo para desejar a todas e todos um Feliz Natal com a esperança de que seja um tempo de renovação e fé na vida!

* Os textos abaixo são sinopses das edições dos livros e/ou trechos das obras.


Um Conto de Natal, de Charles Dickens

Capa do livro Um conto de Natal de Charles Dickens
Capa do livro

Incapaz de compartilhar momentos de amizade e de compreender a magia do Natal, Ebenezer Scrooge só encontra refúgio na riqueza e na solidão. Até que, num 24 de dezembro, recebe a visita do fantasma de Jacob Marley, seu ex-sócio falecido há sete anos.

É ele quem avisa a Scrooge que mais três espíritos o visitarão para lhe dar a chance de mudar seu triste fim e ser poupado de vagar a esmo depois de morto, como Marley. Assim, o Fantasma dos Natais Passados, o Fantasma do Natal Presente e o Fantasma dos Natais Futuros levarão o protagonista para uma viagem no tempo, mostrando-lhe que a generosidade é sempre a melhor escolha.

Um dos livros mais carismáticos da literatura inglesa, Uma canção de Natal recebe o crédito por ter concebido a celebração desse evento como a entendemos hoje: uma ocasião para agradecer e ajudar o próximo.


A Árvore de Natal na casa de Cristo, de Fiódor Dostoiévski

Apresentamos um trecho do conto de Dostoiévski.

Havia num porão uma criança, um garotinho de seis anos de idade, ou menos ainda. Esse garotinho despertou certa manhã no porão úmido e frio. Tiritava, envolto nos seus pobres andrajos. Seu hálito formava, ao se exalar, uma espécie de vapor branco, e ele, sentado num canto em cima de um baú, por desfastio, ocupava-se em soprar esse vapor da boca, pelo prazer de vê-lo se esvolar. Mas bem que gostaria de comer alguma coisa. Diversas vezes, durante a manhã, tinha se aproximado do catre, onde num colchão de palha, chato como um pastelão, com um saco sob a cabeça à guisa de almofada, jazia a mãe enferma. Como se encontrava ela nesse lugar?


A Vendedora de Fósforos, de Hans Christian Andersen

Capa a pequena vendedora de livros
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Na véspera de Ano Novo, uma menina descalça, frágil e desamparada tenta vender fósforos aos passantes. Morrendo de frio, na neve, ela acende alguns palitos para se aquecer. Aos poucos, abandonada e faminta, a vendedora de fósforos vai produzindo alucinações a cada lampejo de luz. Na manhã seguinte, ela é encontrada congelada com o toco de um fósforo queimado na mão.


Missa do Galo, de Machado de Assis

Capa do livro Missa do Galo de Machado de Assis
Capa do livro

“Missa do Galo” é a história de uma conversa na noite de Natal, antes da meia-noite, entre Nogueira, personagem principal do conto, e Conceição, dona da casa em que o personagem estava hospedado. Ricas ilustrações possibilitam ao leitor acompanhar passo a passo a narrativa e ter idéia do espaço, assim como do tempo em que se desenvolve a história.


Cartas do Papai Noel, de J. R. R. Tolkien

capa do livro Cartas do Papai Noel
Capa do Livro

De 1920 a 1943, o aclamado autor de fantasia, J.R.R. Tolkien, assumiu a autoria de Papai Noel e escreveu, na época do Natal, cartas personalizadas aos seus filhos. Além de se dedicar ao conteúdo das cartas, o pai-autor se esmerava em fazer belos desenhos e uma letra especial para cada um dos principais personagens: Papai Noel, seu ajudante atrapalhado Urso Polar do Norte e, mais tarde, o elfo-secretário Ilbereth.Para dar mais emoção às suas histórias, o espontâneo Urso Polar e o responsável Papai Noel se relacionam com diversos personagens, dando um tom ainda mais dinâmico nos relatos. Havia Paksu e Valkotukka, os sobrinhos do Urso Polar, o Homem de Neve e muitos outros, como as inusitadas Aura Bora Real (Aurora Boreal) ou a Ursa Maior, que, além de ser uma constelação, era prima do Urso Polar do Norte.

Nesses mais de vinte anos de contato entre o Papai Noel de Tolkien e seus filhos, você acompanha as mudanças históricas vividas pela Inglaterra de seu tempo, como a greve geral e Segunda Guerra Mundial. Além disso, é possível perceber o desenvolvimento do autor ao longo das décadas, pois Tolkien deixa derramar toques de suas descobertas narrativas, poéticas, linguísticas, caligráficas e ilustrativas em suas cartas ano a ano. Certamente é um grande presente de Natal para fãs ou não de Tolkien, de todas as idades.


O Natal de Hercule Poirot, de Agatha Christie

Capa do livro o Natal de Poirot de Agatha Christie
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Simeon, o patriarca dos Lee, resolve convidar todos os filhos para comemorar o Natal na luxuosa mansão da família. É hora de eles deixarem os ressentimentos de lado e visitarem o velho pai. Mas aparentemente as intenções de Simeon não são nobres. Ele quer se divertir às custas do ganancioso grupo de familiares. Tudo começa com algumas alterações em seu testamento… e termina com um assassinato, em um quarto trancado por dentro. Quando Hercule Poirot oferece ajuda para solucionar o caso, encontra uma atmosfera que não é de luto, mas de supeitas mútuas.


O Quebra-nozes, de E. T. A. Hoffmann

Capa do livro Quebra-nozes de E.T.A. Hoffmann
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A pequena Marie se vê às voltas com estranhos acontecimentos desde que ganhou de natal um curioso senhorzinho quebranozes. Os objetos ao seu redor parecem ganhar vida – as bonecas, os soldadinhos de chumbo de seu irmão. Até que surge uma horripilante criatura para estragar tudo. Um mundo encantado está em perigo e, para piorar, ninguém mais acredita nela.


O Peru de Natal, de Mário de Andrade

Trecho da obra de Mario de Andrade.

O nosso primeiro Natal de família, depois da morte de meu pai acontecida cinco meses antes, foi de conseqüências decisivas para a felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, devido principalmente à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, de uma exemplaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres. Morreu meu pai, sentimos muito, etc. Quando chegamos nas proximidades do Natal, eu já estava que não podia mais pra afastar aquela memória obstruente do morto, que parecia ter sistematizado pra sempre a obrigação de uma lembrança dolorosa em cada almoço, em cada gesto mínimo da família. Uma vez que eu sugerira à mamãe a idéia dela ir ver uma fita no cinema, o que resultou foram lágrimas. Onde se viu ir ao cinema, de luto pesado! A dor já estava sendo cultivada pelas aparências, e eu, que sempre gostara apenas regularmente de meu pai, mais por instinto de filho que por espontaneidade de amor, me via a ponto de aborrecer o bom do morto.


O Conto de Natal de Auggie Wren, de Paul Austen

Capa do livro de Paul Auster. Conto de Natal de Auggie Wren
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Um escritor recebe do jornal The New York Times a encomenda de um conto para ser publicado na manhã de Natal. Ele decide aceitar, mas tem um problema: como escrever um conto de Natal que não seja sentimental? Resolve se abrir com o amigo que trabalha na tabacaria do bairro, um personagem pitoresco chamado Auggie Wren, que promete resolver seu problema: em troca de um almoço, vai lhe contar a melhor história de Natal que já ouviu. E é uma história nada convencional a que ele conta, envolvendo uma carteira perdida, uma mulher cega e uma ceia de Natal.

Tudo é virado de ponta-cabeça. O que é roubar? O que é dar? O que é uma mentira? O que é a verdade? Conto de Natal de Auggie Wren é de fato uma história nem um pouco sentimental, mas nem por isso pouco comovente. O personagem Auggie Wren foi vivido no cinema pelo ator Harvey Keitel em Cortina de fumaça (1995), dirigido por Wayne Wang e com roteiro do próprio Paul Auster, e Sem fôlego (1995), dirigido por Wayne Wang e Paul Auster e com roteiro escrito pelos dois.


O Conto de Natal, do Guy de Maupassant

Trecho da obra de Guy Maupassant.

O Dr. Bonenfant buscava na memória, repetindo a meia voz: Uma recordação de Natal?… Uma recordação de Natal?. . . E, de repente, exclamou: – Sim! Tenho uma! Aliás, muito esquisita! É uma história verdadeiramente fantástica. Assisti a um milagre! Sim, minhas senhoras, um milagre na noite de Natal. Decerto se espantam de me ouvirem falar assim, eu que não creio absolutamente em nada. E, todavia, vi um milagre! Eu o vi com estes meus próprios olhos! Se fiquei muito surpreendido? Não! Se não acredito nas suas crenças, acredito na fé, e sei que ela transporta montanhas. Poderia citar muitos exemplos, mas isso lhes causaria indignação e eu me arriscaria a atenuar o efeito da minha história.


Roberton Frizero – escritor

Roberson Frizero é escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária. É Mestre em Letras pela PUCRS e Especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS. Sua formação inclui bacharelado em Ciências Navais pela Escola Naval (RJ).

Seu livro de estreia,  Por que o Elvis Não Latiu?, foi agraciado pelo Prêmio CRESCER como um dos trinta melhores títulos infantis publicados no Brasil.

O romance de estreia, Longe das Aldeias, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, do Prêmio Açorianos de Literatura e escolhido melhor livro do ano pelo Prêmio Associação Gaúcha de Escritores – AGES. Foi, por três anos consecutivos, jurado do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro – CBL.


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Roberson Frizero é escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária. É Mestre em Letras pela PUCRS e Especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS. Sua formação inclui bacharelado em Ciências Navais pela Escola Naval (RJ). Seu livro de estreia, Por que o Elvis Não Latiu?, foi agraciado pelo Prêmio CRESCER como um dos trinta melhores títulos infantis publicados no Brasil. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, do Prêmio Açorianos de Literatura e escolhido melhor livro do ano pelo Prêmio Associação Gaúcha de Escritores – AGES. Foi, por três anos consecutivos, jurado do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro – CBL.

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