Escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária

Os eventos passados na narrativa literária ficcional guardam algumas armadilhas na hora de lidar com alguns tempos verbais. Isso tem a ver, também, com a riqueza dos tempos verbais na língua portuguesa, tão rica e, às vezes, tão difícil.

Mas este texto não tem nada de difícil, ao contrário, ele busca simplificar e trazer dicas para você saber como lidar com os tempos verbais. Novamente recorremos à obra Para entender o texto. Leitura e redação, de Platão e Fiorin.

Acompanhe este texto até o final para descobrir alguns truques e nunca mais errar no uso do tempo verbal.

Dois tempos: da fala ou de um marco temporal

Quando se está narrando um texto, há, basicamente, duas possibilidades de inscrição e constituição do tempo como referência: aquele de quem está falando ou de um marco temporal. Comentando assim, parece algo mais difícil do que, de fato, é. 

Vejamos alguns exemplos para melhor elucidar do que se trata. Observe as sentenças a seguir:

Ontem Gustavo leu um livro à tarde.

No dia 22 de abril de 1500 os portugueses descobriram o Brasil. No dia anterior, os indígenas viviam em paz.

No primeiro caso, o tempo tinha como referência o momento da fala, não importa quando você lerá o texto, o ontem sempre estará condicionado ao momento em que a fala se materializa, sempre quando ela for novamente relida será atualizada, mas sempre, no caso da ficção, em relação ao tempo próprio da narrativa.

No segundo caso, o tempo em questão na frase é uma data específica, 22 de abril de 1500, portanto um marco temporal, cuja frase seguinte indica um passado de um evento passado.

Tempos concomitantes, anteriores e posteriores

Em um texto, como bem sabemos, as frases e sentenças podem conter mais de um tempo verbal. Há eventos que ocorrem de maneira concomitante e com tempos verbais concomitantes, isto é, os eventos ocorrem e são narrados em paralelo. Veja.

Lourenço corria os olhos pela janela, quando Taís passeava de bicicleta na calçada.

Outra possibilidade, é que os eventos concomitantes em relação numa frase tenham ocorrido em tempos diferentes. Isso porque ambos eventos, ainda que sejam concomitantes, podem ocorrer em um tempo futuro em relação ao momento da narrativa. Observe.

Quando você chegar com o livro, estarei viajando.

Mas também, pode ser que os eventos concomitantes ocorram no passado, um mais no passado que outro. Neste caso precisaremos recorrer ao pretérito mais-que-perfeito. Analise.

Já tinha começado o carnaval, quando a chuva começou a cair.

Escritor escrevendo dentro de uma ampulheta enquanto o tempo escorre
Imagem: Wikimedia Commons

Que termos usar quando desejamos ordenar o tempo da fala

Em termos gramaticais chamamos “advérbio” ou “expressões adverbiais” a partícula da frase que qualifica o verbo. Para não complicar, pensemos assim: quais são os termos de ordenação do tempo que devo usar quando a referência é o tempo da fala?

Anterior: há pouco, ontem, anteontem, há duas semanas/dois meses/dois anos, no mês passado, no ano passado, no último dia, no último ano, etc.

Concomitante: agora, hoje, neste momento, nesta altura, etc.

Posterior: daqui a pouco, logo, amanhã, depois de amanhã, em dois meses, daqui duas semanas, no próximo dia primeiro, etc.

Que termos usar quando desejamos ordenar o tempo de um marco temporal

A mesma coisa ocorre quando se trata de advérbios de tempo tendo como referência um marco temporal, mas os termos são completamente outros. É fundamental, não confundir as palavras de um tipo de ordenação do tempo – tempo da fala – com outro – marco temporal.

Conheça quais são os termos mais adequados para usar com marco temporal.

Anterior: na véspera, na antevéspera, no dia/mês/ano anterior, um(a) semana/mês/ano antes, etc.

Concomitante: então, no mesmo dia.

Posterior: no dia/mês/ano seguinte, um(a) semana/ano/dia depois, daí umas horas, daí uns dias.

Viu, é bem mais simples do que parece. Mas estar atento a esses detalhes, qualifica e torna sua narrativa mais clara para os leitores.

Clube de criação literária

Clube de Criação Literária é uma dessas ações de mecenato coletivo – neste caso, em favor do escritor e tradutor Robertson Frizero. Mas, como o próprio nome sugere, é uma ação de mecenato que traz, também, uma ideia inovadora no campo da formação continuada em Escrita Criativa.

Acompanhe a programação dos encontros de abril.

Programação de abril/2022 do Clube de Criação Literária
Programação de abril/2022 do Clube de Criação Literária

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  • Reuniões on-line e debates sobre Criação LiteráriaLiteratura Mercado Editorial;
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  • Sorteios mensais de livros e serviços de mentoria literária individual e leitura crítica.

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Roberson Frizero é escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária. É Mestre em Letras pela PUCRS e Especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS. Sua formação inclui bacharelado em Ciências Navais pela Escola Naval (RJ). Seu livro de estreia, Por que o Elvis Não Latiu?, foi agraciado pelo Prêmio CRESCER como um dos trinta melhores títulos infantis publicados no Brasil. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, do Prêmio Açorianos de Literatura e escolhido melhor livro do ano pelo Prêmio Associação Gaúcha de Escritores – AGES. Foi, por três anos consecutivos, jurado do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro – CBL.

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