Escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária

Em outro texto deste site apresentamos o que são e como funcionam os argumentos. Agora, nosso propósito é, justamente mostrar alguns defeitos de argumentação para que você esteja atento ao produzir seu texto ficcional.

Para começarmos vale uma regra geral: evite frases prontas, pensamentos enlatados. Essas estratégias denotam falta de consistência dos personagens ou do narrador. Normalmente ideias muito genéricas e totalizantes denotam esvaziamento de consciência.

É importante sempre lembrarmos porquê escrevemos. Um escritor – ou aspirante a escritor – escreve para ser compreendido. Então estar atento às argumentações é fundamental, pois você não está diante do interlocutor para interpor novos argumentos a uma dada explicação, então ser claro é fundamental.

Ilustração de duas pessoas dicutindo numa mesa onde no lugar da cabeça está um megafone
Imagem: Public Domain CC

Palavras muito “abertas” são propícias à confusão

Há algumas palavras cuja extensão do sentido é bastante aberta e para todas elas é preciso cuidado. Por exemplo, o termo “liberdade” é um daqueles difíceis de saber exatamente o que significa. Isso porque seu significado flutua conforme o enunciador.

Imagine um personagem ficcional que retrate um presidente dos Estados Unidos em uma obra que se passa na segunda metade do século XX na América Latina. A rigor, ele defenderá a liberdade dos países da América do Sul nem que para isso envie tropas militares ou dê apoio a determinadas correntes políticas.

Agora imagine outro personagem ficcional do mesmo filme, no papel de um presidente de um dos países latino-americanos. Este defenderá a autonomia de sua nação em nome da liberdade de seu povo e de seus conterrâneos.

Em ambos casos o argumento da liberdade é resgatado, mas significando coisas não somente diferentes, mas opostas. Então esta é uma das palavras cujo sentido que se pretende expor aos leitores precisa ser acompanhado de uma descrição mais detalhada..

Palavras de significado amplo

Algumas palavras necessitam de uma definição quando se está escrevendo um argumento em um texto autoral (mas não somente). Algumas delas são: liberdade, democracia, justiça, ordem, alienação, etc.
Mais ainda. Certos termos funcionam como “universais” positivos ou negativos. O que isso significa? Universais são uma espécie de valor compartilhado por um grupo grande de pessoas. Palavras como justiça, paz e liberdade operam como universais positivos; ao passo que injustiça, guerra e autoritarismo funcionam como universais negativos.

Em todos esses casos é fundamental definir do que estamos falando quando evocamos esses conceitos. Lançar mão desses argumentos sem definí-los torna o nosso texto moralizante e inconsistente. Expressões de senso comum só servem quando queremos construir um personagem destituído de qualquer criticidade.

Ilustração com duas mulheres sentadas e com um notebook no colo conversando. A imagem é divida ao meio com cada lado da parede de uma cor diferente.
Imagem: Mohamed Salam / Pixabay CC

Totalização e indeterminação

Algo muito comum em conversas do dia é a totalização de algo como argumento. Pense no seguinte exemplo: todos os políticos são corruptos. É evidente que tal afirmativa é falsa, pois, ainda que exista muitos políticos corruptos, nem todos o são. A falha desse tipo de argumento é, fundamentalmente, a imprecisão e indeterminação.

O principal problema deste tipo de retórica totalizante é que elas abrem flanco para uma contra-argumentação imediata. Sem contar que esse tipo de afirmação denota a completa falta de visão analítica do personagem ou narrador. Isso significa que nunca se pode usar frases desse tipo? Não exatamente. Significa que se você for usá-la, deve-se usar de forma consciente visando um determinado efeito de sentido.


Acompanhe na próxima semana a Parte II deste texto.

Clube de Criação Literária

Clube de Criação Literária é uma dessas ações de mecenato coletivo – neste caso, em favor do escritor e tradutor Robertson Frizero. Mas, como o próprio nome sugere, é uma ação de mecenato que traz, também, uma ideia inovadora no campo da formação continuada em Escrita Criativa.

Programação de maio do Clube de Criação Literária

A programação traz, em dias alternativos, alguns encontros já ministrados e que foram solicitados por vocês para uma reedição.

Esses cursos serão abertos ao público em geral, mas para afiliados do CCL há um desconto de 60% no valor. Caso indique um aluno para o curso que efetive sua matrícula, o afiliado ganha bolsa integral na atividade. O primeiro tema será a Escrita de Roteiros Audiovisuais.

Porgramação Julho Clube de Criação Literária
Porgramação Julho Clube de Criação Literária

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Roberson Frizero é escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária. É Mestre em Letras pela PUCRS e Especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS. Sua formação inclui bacharelado em Ciências Navais pela Escola Naval (RJ). Seu livro de estreia, Por que o Elvis Não Latiu?, foi agraciado pelo Prêmio CRESCER como um dos trinta melhores títulos infantis publicados no Brasil. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, do Prêmio Açorianos de Literatura e escolhido melhor livro do ano pelo Prêmio Associação Gaúcha de Escritores – AGES. Foi, por três anos consecutivos, jurado do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro – CBL.

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