Escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária

José de Sousa Saramago, mais conhecido simplesmente por José Saramago. No dia de hoje, 16 de novembro, completam-se 99 do nascimento de um dos maiores escritores em língua portuguesa. Saramago faleceu em 18 de junho de 2010, aos 87 anos, em decorrência de uma leucemia crônica. Sua obra e seu legado continuam vivíssimos às vésperas do centenário de seu nascimento.

Saramago é único escritor de Língua Portuguesa agraciado com o maior galardão literário do mundo, o Nobel de Literatura, em 1998. Sua vasta obra inclui adaptações para o cinema como Ensaio sobre a cegueira (2008), dirigido por Fernando Meirelles; A jangada de pedra (2008) dirigido por George Sluizer; A maior flor do mundo (2008) dirigido por de Juan Pablo Etcheverry; O homem duplicado (2014) dirigido por Denis Villeneuve; O ano da morte de Ricardo Reis (2020) dirigido por João Botelho.

O livro O Memorial do Convento (1982) foi adaptado para uma ópera de Azio Corghi, chamada Blimunda (nome da protagonista da obra), criada na Scala de Milão em 1990.

Entrevista de José Saramago ao programa Roda Viva

Saramago e O evangelho segundo Jesus Cristo

Muito embora tenha sido membro do Partido Comunista Português, as principais polêmicas em torno da obra de Saramago versavam sobre seu olhar crítico ao cristianismo. O evangelho segundo Jesus Cristo teve sua primeira edição publicada em 1991 e na época foi tema de debates, gerando a seguinte declaração do Bispo de Braga.

“Um escritor português, ateu confesso e comunista impenitente, como ele mesmo se apresenta, resolveu elaborar uma delirante vida de Cristo, na perspectiva da sua ideologia político-religiosa e distorcida por aqueles parâmetros. (…) A apregoada beleza literária, a existir nesta obra, longe de atenuante e muito menos dirimente, constitui circunstância agravante da culpabilidade do réu, seu autor.”

D. Eurico Dias Nogueiras, maio de 1992
Foto do jornal com a reportagem sobre a retirada de Saramango do Prêmio Europeu de Literatura
Reprodução Observador

O fato de Saramago ser ateu trazia uma camada a mais de pimenta às polêmicas que lhe renderam inimigos, mas, sobretudo, fama fora dos círculos literários.

António Sousa Lara, em 1992, subsecretário de Estado da Cultura de Portugal, retira José Saramago do Prêmio Literário Europeu – PLE. O episódio, tem a ver, inclusive, com a decisão do escritor deixar Portugal e ir morar em Lanzarote, nas ilhas Canárias, território espanhol.

“[Evangelho segundo Jesus Cristo] Não representa Portugal. Não me pediram um julgamento sobre a obra inteira de Saramago, mas sobre este livro. Ora, há questões pessoais que me modelam, às quais não me oponho por questões de consciência pessoal.”

António Sousa Lara, abril de 1992
Trecho do documentário José e Pilar

Dica do Frizero! O conto da ilha desconhecida

O romance preferido do Frizero é Todos os nomes, mas sua dica de livro, para quem nunca leu o mestre português, é como com O conto da ilha desconhecida.


Leia um trechinho.

“Um homem foi bater à porta do reio e disse-lhe, Dá-me um barco. A casa do rei tinha muitas mais portas, mas aquela era a das petições. Como o rei passava o todo o tempo sentado à porta dos obséquios (entenda-se, os obséquios que faziam a ele), de cada vez que ouvia alguém chamar à porta das petições fingia-se desentendido, e só quando o ressoar contínuo da aldraba de bronze se tornava, mais do que notório, escandaloso, tirando o sossego da vizinhança (as pessoas começavam a murmurar, Que rei temos nós, que não atende), é que dava ordem ao primeiro-secretário para ir saber o que queria o impetrante, que não havia maneira de se calar. Então, o primeiro-secretário chamava o segundo-secretário, este chamava o terceiro, que mandava o primeiro-ajudante, que por sua vez mandava o segundo, e assim por aí fora até chegar à mulher da limpeza, a qual, não tendo ninguém a quem mandar, entreabria a porta das petições e perguntava pela frincha, Que é que tu queres. O suplicante dizia ao que vinha, isto é, pedia o que tinha a pedir depois instalava-se a um canto da porta à espera de que o requerimento fizesse, de um em um, o caminho contrário, até chegar ao rei. Ocupado como sempre estava com os obséquios, o rei demorava a resposta, e já não era pequeno sinal de atenção ao bem-estar e felicidade do seu povo quando resolvia pedir um parecer fundamentado por escrito ao primeiro-secretário, o qual, escusado seria dizer, passava a encomenda ao segundo-secretário, este ao terceiro, sucessivamente, até chegar outra vez à mulher da limpeza, que despachava sim ou não conforme estivesse de maré.

Contudo no caso do homem que queria um barco, as coisas não se passaram bem assim. Quando a mulher da limpeza lhe pergunto pela nesga da porta, Quem é que tu queres, o homem, em lugar de pedir, como era o costume de todos, um título, uma condecoração, ou simplesmente dinheiro, respondeu, Quero falar ao rei, Já sabes que o rei não pode vir, está na porta do obséquios, respondeu a mulher, Pois então vai lá dizer-lhe que não saio daqui até que ele venha, pessoalmente, saber o que quero, rematou o homem, e deitou-se ao comprido no limiar, tapando-se com a manta por causa do frio.”

José Saramago, O conto da ilha desconhecida

Prêmios de José Saramago

Apesar de ter sido barrado do Prêmio Literário Europeu – PLE, em 1992, Saramago já era um escritor aclamado, mesmo antes de receber o Nobel de Literatura, que ocorreria seis anos mais tarde.


Prêmio Cidade de Lisboa (1980)
Prêmio Literário Município de Lisboa (1982)
Prêmio P.E.N. Clube Português de Novelística (1983, 1985)
Prêmio D. Dinis (1984)
Prêmio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários (1985)
Grande Prêmio de Romance e Novela APE/DGLB (1991)
Prêmio Bordalo de Literatura da Casa da Imprensa (1991)
Grande Prêmio Vida Literária APE/CGD (1993)
Gold Medal.svg Prêmio Camões (1995)
Prêmio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores (1995)
• Prêmio Nobel de Literatura (1998)

Comemorações do centenário de José Saramago em 2022

A Fundação José Saramago, presidida pela jornalista, escritora e tradutora Pílar del Rio, prepara uma série de atividades para o Centenário de José Saramago, a ser celebrado em 2022. A programação completa pode ser acessada no site da Fundação.

A editora Companhia das Letras, que publica o autor no Brasil está preparando uma série de lançamentos, eventos e publicação de e-book gratuito sobre a vida e a obra de José Saramago.


Clube de criação literária

Clube de Criação Literária é uma dessas ações de mecenato coletivo – neste caso, em favor do escritor e tradutor Robertson Frizero. Mas, como o próprio nome sugere, é uma ação de mecenato que traz, também, uma ideia inovadora no campo da formação continuada em Escrita Criativa.

Associando-se ao Clube, o participante colabora com o mecenato coletivo e tem acesso a conteúdo exclusivo sobre Criação Literária:

  • Material didáticoartigos resenhas de livros de interesse na área de Criação Literária;
  • Reuniões on-line e debates sobre Criação LiteráriaLiteratura Mercado Editorial;
  • Vídeos, áudios, apresentações e sessões de mentoria literária em grupo;
  • Sorteios mensais de livros e serviços de mentoria literária individual e leitura crítica.

Desafio de literatura 2021: envie suas resenhas e ganhe prêmios

Conhece o Desafio de literatura 2021 do site Frizero? Você pode publicar sua resenha literária em nossa página e de quebra ganhar o livro  Dostoiévski – Correspondências (1838-1880), do escritor russo que completa duzentos anos de nascimento em 2021. A edição foi traduzida por Robertson Frizero.

Como devo escrever e enviar minha resenha

No mês de novembro, o desafio é ler Um romance ou novela literária escrita por Fiódor Dostoiévski ou inspirada em sua obra.

Para participar basta enviar seu texto para sitefrizero@gmail.com com o assunto [DESAFIO DE LITERATURA – NOME DO PARTICIPANTE].

Lembre-se deixar no formato .doc com a seguinte formatação: Times New Roman, 12, espaçamento 1.5, título e autor no nome do arquivo.

Caso sua resenha seja escolhida para publicação, você receberá um e-mail solicitando dados para o recebimento da premiação.


Robertson Frizero

Retrato de Robertson Frizero
Robertson Frizero

Robertson Frizero é escritor, tradutor e professor de Criação Literária. Sua primeira oficina foi lançada em 2011, e desde então se manteve em atividade contínua, entre oficinas, cursos, palestras e mentorias literárias. Foi jurado do Prêmio Jabuti de Literatura por três anos consecutivos e jurado do Prêmio Açorianos de Literatura. É Mestre em Letras pela PUCRS e especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS.

Frizero é autor de romances e livros infantis premiados, e já publicou também poesia, contos e textos teatrais. Seu livro de estreia, o infantil Por que o Elvis Não Latiu? [8INVERSO, 2010], foi agraciado com o Prêmio Crescer. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias [Dublinense, 2015], ganhou o Prêmio AGES de melhor romance do ano pela Associação Gaúcha de Escritores – AGES e foi finalista dos prêmios São Paulo de Literatura e Açorianos de LiteraturaLonge das Aldeias foi também escolhido pelo Governo Federal para distribuição à Rede Pública de Ensino no PNDL Literário 2018. Em 2020, Longe das Aldeias foi traduzido para o árabe e publicado no Kuwait e Iraque, com distribuição para todo o mundo árabe.


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Roberson Frizero é escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária. É Mestre em Letras pela PUCRS e Especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS. Sua formação inclui bacharelado em Ciências Navais pela Escola Naval (RJ). Seu livro de estreia, Por que o Elvis Não Latiu?, foi agraciado pelo Prêmio CRESCER como um dos trinta melhores títulos infantis publicados no Brasil. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, do Prêmio Açorianos de Literatura e escolhido melhor livro do ano pelo Prêmio Associação Gaúcha de Escritores – AGES. Foi, por três anos consecutivos, jurado do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro – CBL.

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