Escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária

Socorro Furtado é o novo romance do escitor Robertson Frizero. Na entrevista a seguir ele conta como surgiu este livro, cuja versão original foi escrita há 15 anos. É por isso que este é o primeiro romance escrito pelo premiado escritor autor, entre outras obras, de Longe das aldeias.

Imagem da capa do livro Socorro Furtado, de Robertson Frizero. Trata-se de um recorte da obra Mulher sentada de perfil (1909), Jean-Louis Forain, National Gallery of Art, Washington DC, EUA.
Capa do livro. Imagem Mulher sentada de perfil (1909), Jean-Louis Forain, National Gallery of Art, Washington DC, EUA.

O livro conta a história de um estudante de Medicina, mais importante morador de uma pensão modesta. Ele descobre uma insuspeitada paixão pela mais tímida e reclusa das hóspedes – e presencia uma tragédia anunciada, que afetará a dinâmica da casa de forma surpreendente e definitiva. Os segredos de uma moça pacata, de gestos pequenos e voz recolhida é o fio condutor que conduz personagens e leitores por esta obra.

“Revisitar um romance todo esse tempo depois de escrito é uma tarefa difícil e bastante curiosa para qualquer escritor. Porque em quinze anos minha escrita mudou bastante, eu trabalhei muito como professor de criação literária, de tal modo que mergulhei bastante nesse universo. Muitas crenças daquela época já não existem mais, meu texto hoje é bem mais límpido”, pondera Frizero.

Leia a entrevista na íntegra.

Entrevista com Robertson Frizero sobre o romance Socorro Furtado.

Retrato Robertson Frizero
Imagem: Arquivo pessoal/Instagram

Qual a peculiaridade de Socorro Furtado em relação a teus outros romances?

Robertson Frizero – Socorro Furtado nasceu dos exercícios de criação literária da Oficina do professor Luiz Antonio de Assis Brasil. Falo isso com bastante orgulho por feito a oficina e ter sido aluno dele, mas sobretudo por gratidão. Foi ali que começou, efetivamente, minha carreira de escritor. O professor passava exercícios semanais de criação e no primeiro deles ele disse que quem fosse um pouco mais esperto usaria a mesma personagem nas demais atividades do semestre e, ao final, teria uma novela literária em andamento.

Achei tudo aquilo muito interessante porque nunca me imaginei escrevendo um romance, afinal considerava este um esforço muito grande para um escritor. Então eu me agarrei àquela sugestão e assim fui fazendo. Socorro Furtado foi nascendo no primeiro exercício e partir daí ia avançando um passo a mais desta novela literária que agora lançamos como um romance, quinze anos depois da sua primeira versão.

Como foi revisitar esse texto 15 anos depois da primeira versão e agora trazê-lo ao público?  

Robertson Frizero – Revisitar um romance todo esse tempo depois de escrito é uma tarefa difícil e bastante curiosa para qualquer escritor. Porque em quinze anos minha escrita mudou bastante, eu trabalhei muito como professor de criação literária, de tal modo que mergulhei bastante nesse universo. Muitas crenças daquela época já não existem mais, meu texto hoje é bem mais límpido. O cerne da história, contudo, continuou. Alguma coisa foi mudada, alguns capítulos foram acrescentados, mas eu não queria mudar muito porque  o romance foi agraciado à época com o Prêmio Cidade de Manaus, no qual recebi uma menção honrosa.

Ao mesmo tempo que eu quis trabalhar um pouco mais o texto, também quis manter um pouco daquela essência. É uma linguagem bem diferente daquela que os meus leitores encontram em Longe das aldeias, inclusive foi trabalhada para dar ao leitor informações sobre a época em que se passa a história, mais ou menos nos anos 1940 no Brasil, na era do rádio. Contudo, eu não podia deixar passar algumas coisas que hoje considero pequenos pecados, do Robertson de quinze anos atrás, razão pela qual o texto recebeu essas modificações.

É uma grande aventura lançar meu primeiro romance escrito quinze anos depois

Robertson Frizero

Quais são as novidades editoriais desta nova versão?

Robertson Frizero – Esta edição é bem mais consistente, eu diria, que aquela primeira na qual alguns poucos amigos tiveram contato em 2008. Alguns personagens foram aprofundados, a linguagem foi mais trabalhada e esta edição da Editora Entrecapas é bastante cuidadosa, no sentido de me permitir que o texto fique mais arejado. Não é uma edição apressada, tem espaços vazios, para que o leitor possa fruir da leitura de uma maneira mais tranquila.

Muitas vezes nós escritores não temos muita noção da questão editorial, mas ela é bastante importante. Há, também, um posfácio explicando a história do livro. No momento, porém, o essencial será descobrir como o leitor de 2023 vai receber esse livro que nasceu em 2008. Tive muita dúvida sobre esse livro durante muito tempo e acabei sendo convencido sobre a publicação por alguns leitores atuais a quem eu dei acesso ao livro e pediram para que eu publicasse. Dei a sorte da Editora Entrecapas se interessar pelo livro e eles propuseram a publicação, por meio do editor Sandro Bier. É uma grande aventura lançar meu primeiro romance escrito quinze anos depois.

Qual sua expectativa com o lançamento desta nova edição?

Robertson Frizero – Minhas expectativas são enormes. Sendo muito honesto, eu não sei qual será a receptividade dos leitores. É um livro, como disse, diferente do Longe das aldeias, que tem uma linguagem mais poética e mais sucinta. Além disso é um livro um pouco mais barroco, no sentido que tem uma superposição de informações para trazer ao leitor a sensação de um texto mais antigo, de uma outra década, de um outro tempo. E também pela construção meio ousada. Estou curioso para saber se algum leitor vai pescar a ousadia da construção. Não tem uma estrutura convencional de primeiro, segundo e terceiro atos aristotélicos. Isso é bastante reformado na estrutura do livro, algo que eu gostaria de perceber se os leitores vão reagir e como vão reagir a isso.

É mais um livro em torna de uma personagem muito forte, tal como foi meu último romance lançado pela Amazon, o Merci. Tudo isso me leva a repetir o que já disse, mas meu maior sentimento, que estou curioso sobre como o público reagirá com este lançamento.

Faça um convite dizendo porquê os leitores devem ler este romance…

Robertson Frizero – Gostaria de convidar a todos a conhecerem Socorro, a personagem, Socorro Furtado, o romance, e essa aventura que foi resgatar este texto. Espero que gostem da proposta e consigam entrar naquele universo para que eu possa saber, com os seus comentários, o que Socorro Furtado trouxe para vocês.

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Roberson Frizero é escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária. É Mestre em Letras pela PUCRS e Especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS. Sua formação inclui bacharelado em Ciências Navais pela Escola Naval (RJ). Seu livro de estreia, Por que o Elvis Não Latiu?, foi agraciado pelo Prêmio CRESCER como um dos trinta melhores títulos infantis publicados no Brasil. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, do Prêmio Açorianos de Literatura e escolhido melhor livro do ano pelo Prêmio Associação Gaúcha de Escritores – AGES. Foi, por três anos consecutivos, jurado do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro – CBL.

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