Escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária

Conceitualmente adaptação cinematográfica é quando se adapta uma história literária para uma mídia audiovisual, especificamente para o cinema. Para que isso seja possível é preciso transformar a história narrada, normalmente em prosa, em um roteiro para as telas. É possível, também, adaptar uma obra para uma série de TV ou streaming.

Essa relação é bastante antiga e remonta aos primórdios do cinema, em uma simbiose que remete ao começo da sétima arte. A primeira adaptação da literatura para o cinema data de 1896 de uma história originalmente publicada em uma HQ, chamada Arrosage public, no ano de 1885. No cinema foi transmitida com o nome L’Arroseur, dirigida pelo precursor francês Georges Meliès.

O que é adaptação de um livro

Quando se escreve um livro há uma série de intenções do autor na hora da escolha das palavras e do ritmo da escrita. Ao transpor isso para outra mídia (considerando o livro como um tipo de “meio de comunicação”) é preciso fazer uma série de adaptações que permitirão que o argumento do livro não se perca no formato fílmico.

A adaptação de um livro não é, portanto, uma tradução no sentido corrente do termo, mas uma “tradução intersemiótica”, pois implica traduzir um texto escrito em um texto audiovisual.

Em suma, adaptação cinematográfica é um tipo particular de “tradução” que se propõe a colocar no formato do cinema as intenções comunicativas da obra literária.

Imagem de uma mesa com um roteiro de cinema, uma câmera antiga, um mouse e um rolo de filme cinematográfico
Imagem: Reprodução Wikimedia Commons

Qual o papel do roteirista

De alguma maneira, no audiovisual – cinema, televisão e streaming – toda a parte que diria respeito ao repertório do leitor precisa ganhar materialidade visual ou audível. O papel de pensar como isso se dará é cumprido pelo roteirista. Jorge Furtado publicou um texto que explora detalhadamente alguns desses aspectos.

Há três desafios essenciais: 

  1. Em primeiro lugar, toda a informação precisa se transformar em linguagem audiovisual. Isso pode parecer simples, mas pense como pode ser difícil transformar um mero pensamento, uma lembrança, em uma imagem cinematográfica.
  2. Um segundo ponto essencial é a dificuldade de transpor a informação de uma mídia para outra. Jorge Furtado provoca-nos a pensar em como é difícil traduzir para o cinema a frase inicial de A metamorfose de Franz Kafka: “Ao despertar após uma noite de sonhos agitados Gregor Samsa encontrou-se em sua própria cama transformado num inseto gigantesco”. Dentre as questões cinematográficas levantadas pelo escritor e roteirista, estão: “Qual a cor do inseto? É uma cama de madeira ou de metal? Qual a cor das paredes do quarto? Como é a luz do quarto? Há uma janela? A luz entra pela janela? Através da persiana ou através das cortinas? Como é o piso desse quarto? É de madeira ou está coberto por um tapete? A cama tem lençóis? Há outros móveis no quarto?”.
  3. Um terceiro aspecto essencial é o tempo que cada passagem do livro terá em sua versão cinematográfica. Por mais que o escritor estabeleça um certo ritmo para a escrita e que fica sugerido para a leitura, o tempo em que cada leitor se deterá nas cenas é muito particular. No cinema, essa adaptação dependerá do diretor.

Isso tudo torna a transposição de uma obra literária para o cinema uma outra obra, com diferentes nuances, sutilezas, com perdas e ganhos. Trata-se da complexa tarefa de tornar o “imaginado” da literatura em o “filmado” do cinema.

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Roberson Frizero é escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária. É Mestre em Letras pela PUCRS e Especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS. Sua formação inclui bacharelado em Ciências Navais pela Escola Naval (RJ). Seu livro de estreia, Por que o Elvis Não Latiu?, foi agraciado pelo Prêmio CRESCER como um dos trinta melhores títulos infantis publicados no Brasil. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, do Prêmio Açorianos de Literatura e escolhido melhor livro do ano pelo Prêmio Associação Gaúcha de Escritores – AGES. Foi, por três anos consecutivos, jurado do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro – CBL.

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