Escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária

Robertson Frizero

Iniciamos hoje uma série de três textos sobre a questão do conflito na ficção literária. Como se sabe, até pode se escrever uma história sem conflito, mas ela será capaz de prender a atenção do leitor?

O objetivo de todo escritor é prender a atenção do leitor e nada melhor para esta tarefa que apresentar a ele que os dilemas de seu personagem também podem ser os dele. É nesse sentido que a narrativa ficcional encontra a vida real.

Apresentaremos a seguir alguns aspectos fundamentais na relação entre conflito e personagem, com dicas para você aplicar na sua escrita criativa.

O que é o conflito na ficção literária?

O professor Assis Brasil em sua obra Escrever ficção. Um manual de criação literária (2019), a que recorremos em outros textos deste site, prefere chamar o que costumamos definir como “conflito essencial” de questão essencial.

A questão essencial é algo de originário e, muitas vezes, intransitivo. É questão por ser matéria a ser resolvida – um problema, portanto –, e é essencial porque ínsita ao ser humano. Provoca na pessoa reiterações totalizantes, dúvidas, embates internos e buscas que quase nunca resultam em algo de aproveitável.

(ASSIS BRASIL, p. 93)

O conflito dos personagens é como os nossos e tanto melhor quanto mais possam ecoar os conflitos da ficção na vida real (e isso nada ter a ver com produzir uma literatura realista, na fantasia, por exemplo, os conflitos são absolutamente conectados à vida real).

Mas há algo importante a levar em conta, um conflito não existe de forma isolada, é necessário que ele esteja conectado a uma trama que o sustente.

Pesoas em exposição de arte com redes de fios conectados
Imagem: Paul Henri / Pixabay CC

Da questão essencial às motivações pessoais: os dois lados da moeda do conflito

Os conflitos não são construídos de forma linear. Eles dependem de uma rede de conexões que tornam aquilo, que para uma determinada pessoa não é uma “questão”, algo fundamental para outra.

Construir um conflito é mais simples do que parece. Pare um minuto e pense em suas relações sociais, profissionais, afetivas, todas elas dão a medida de como viver em sociedade é conflituoso. E isso pode ser bom, pois para um ficcionista pode render boas histórias.

Nossa vida é cheia de questões essenciais. Basta ver como encaramos nossa carreira profissional, como lidamos com a desigualdade, de que maneira reagimos ao que vemos nos telejornais. Tudo isso é fonte inesgotável de conflitos para a ficção.

Foque em um detalhe: toda história é uma promessa. Não uma promessa de resolução de um conflito, mas de que o personagem vai levar o leitor a uma viagem com ele diante das alegrias e dissabores que é viver. É essa promessa que conecta escritor, personagem e leitores.

Qual a relação entre conflito interno e conflito externo?

Imagine uma pessoa que vive idilicamente, no emprego perfeito, com a companhia perfeita, com a saúde física e mental perfeita e, de repente, algo de extraordinário ocorre e ela passa a conviver com um dilema. Quem se sentiria conectado a uma história dessas? Como esta personagem saberia que está diante uma questão essencial?

Um conflito não surge “do nada”. Isso porque os persomagems (e as pessoas) têm inclinações e reações diferentes aos eventos da vida, alguém pode parecer completamente insensível à vida ou a um assassinato, como o personagem Mersault, de O estrangeiro, de Camus. No polo oposto está Ronquentin, de A náusea, de Sartre, sujeito dotado de sensibilidade aguda em relação às questões existenciais.

Tomando como exemplo esses personagens, recordados e citados por Assis Brasil, imaginem como cada um deles reagirá diante da questão essencial de sua narrativa ficcional.

Personagens como esses podem estar diante do mesmo fato – hipoteticamente, o corpo de uma pessoa morta cujas evidências apontam para dois suspeitos, que, a partir de agora precisam se defender das acusações -, mas a forma como um e outro se conecta à questão essencial produz consequências completamente diferentes.

Escrever é produzir conflito quanto mais possíveis de serem captados pelos leitores, maior a chance de você fisgá-los desde o começo da narrativa. Mas não seja óbvio, faça da sutileza a arte prender seu público à sua história.

Clube de criação literária

Clube de Criação Literária é uma dessas ações de mecenato coletivo – neste caso, em favor do escritor e tradutor Robertson Frizero. Mas, como o próprio nome sugere, é uma ação de mecenato que traz, também, uma ideia inovadora no campo da formação continuada em Escrita Criativa.

Associando-se ao Clube, o participante colabora com o mecenato coletivo e tem acesso a conteúdo exclusivo sobre Criação Literária:

  • Material didáticoartigos resenhas de livros de interesse na área de Criação Literária;
  • Reuniões on-line e debates sobre Criação LiteráriaLiteratura Mercado Editorial;
  • Vídeos, áudios, apresentações e sessões de mentoria literária em grupo;
  • Sorteios mensais de livros e serviços de mentoria literária individual e leitura crítica.

Desafio de literatura 2021: envie suas resenhas e ganhe prêmios

Conhece o Desafio de literatura 2021 do site Frizero? Você pode publicar sua resenha literária em nossa página e de quebra ganhar o livro  Dostoiévski – Correspondências (1838-1880), do escritor russo que completa duzentos anos de nascimento em 2021. A edição foi traduzida por Robertson Frizero.

Como devo escrever e enviar minha resenha

No mês de junho o desafio é ler um romance policial escrito por uma autora brasileira.

Para participar basta enviar seu texto para sitefrizero@gmail.com com o assunto [DESAFIO DE LITERATURA – NOME DO PARTICIPANTE].

Lembre-se deixar no formato .doc com a seguinte formatação: Times New Roman, 12, espaçamento 1.5, título e autor no nome do arquivo.

Caso sua resenha seja escolhida para publicação, você receberá um e-mail solicitando dados para o recebimento da premiação.


Robertson Frizero

Retrato de Robertson Frizero
Robertson Frizero

Robertson Frizero é escritor, tradutor e professor de Criação Literária. Sua primeira oficina foi lançada em 2011, e desde então se manteve em atividade contínua, entre oficinas, cursos, palestras e mentorias literárias. Foi jurado do Prêmio Jabuti de Literatura por três anos consecutivos e jurado do Prêmio Açorianos de Literatura. É Mestre em Letras pela PUCRS e especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS.

Frizero é autor de romances e livros infantis premiados, e já publicou também poesia, contos e textos teatrais. Seu livro de estreia, o infantil Por que o Elvis Não Latiu? [8INVERSO, 2010], foi agraciado com o Prêmio Crescer. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias [Dublinense, 2015], ganhou o Prêmio AGES de melhor romance do ano pela Associação Gaúcha de Escritores – AGES e foi finalista dos prêmios São Paulo de Literatura e Açorianos de LiteraturaLonge das Aldeias foi também escolhido pelo Governo Federal para distribuição à Rede Pública de Ensino no PNDL Literário 2018. Em 2020, Longe das Aldeias foi traduzido para o árabe e publicado no Kuwait e Iraque, com distribuição para todo o mundo árabe.


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Roberson Frizero é escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária. É Mestre em Letras pela PUCRS e Especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS. Sua formação inclui bacharelado em Ciências Navais pela Escola Naval (RJ). Seu livro de estreia, Por que o Elvis Não Latiu?, foi agraciado pelo Prêmio CRESCER como um dos trinta melhores títulos infantis publicados no Brasil. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, do Prêmio Açorianos de Literatura e escolhido melhor livro do ano pelo Prêmio Associação Gaúcha de Escritores – AGES. Foi, por três anos consecutivos, jurado do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro – CBL.

9 COMMENTS

  1. Muito legal adorei, estou amando participar do clube estou aprendendo a cada dia coisas novas que estão me ajudando muito na minha carreira de iniciante! Obrigada

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