Escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária

Quer saber qual a fórmula mágica para escrever aquele conto arrebatador que te levará ao primeiro lugar em qualquer premiação? Pois bem, não existe. Quer dizer, na verdade existe: é preciso escrevê-lo. Embora óbvia a resposta, suas consequências práticas são mais complicadas.

Saber como escrever bons contos é algo que requer, antes de tudo, prática. Raramente o primeiro conto de uma pessoa será uma peça primorosa. A tendência é que com a prática da escrita e com o passar do tempo e seu aprimoramento leve ao desenvolvimento de boas histórias.

Neste texto apresentamos dez dicas de como escrever bons contos, procurando explicar cada umas das etapas, desde o começo da narrativa até a revisão final. Vale apostar no conto como uma interessante porta de entrada para o mundo da literatura. Ao trabalho!

Pessoa escrevendo
Pessoa escrevendo (Imagem: Piqsels CC)

Dez dicas de como escrever bons contos

Não há regras fixas sobre como escrever bons contos. Cada escritor vai desenvolver seu processo criativo de maneira particular e o importante é superar os bloqueios criativos.

Contudo, apresentamos dez dicas de como escrever bons contos com base na nossa experiência e na prática de muitos autores consagrados. Não há muito segredo e você verá que todos bons contos que você já leu acabam, de uma forma ou de outra, sendo estruturados a partir das sugestões a seguir.

1 – Vá direto ao ponto

O conto, enquanto narrativa curta, se caracteriza, como já explicamos, pela concisão. Então aposte mais em ações que em descrições. Isso ajuda a colocar o leitor dentro da história.

Faça como personagem o Ricardo de Lygia Fagundes Teles em Venha ver o pôr do sol, que caminha com Raquel pelo cemitério e descreve o abandono e degradação do local em comparação ao abandono e degradação humanas.

2 – Aposte em personagens com conflitos consistentes

Como já aprendemos por aqui, conflito e personagens estão inseparavelmente unidos. No conto não é diferente e é fundamental que esta relação esteja bem amarrada para prender a atenção do leitor.

Em A aposta, Anton Tchekhov trabalha muito bem os conflitos engendrados na relação entre o banqueiro e o estudante de direito que debate sobre a pena de morte e a prisão perpétua, cujos conflitos de um e de outro conformam a questão essencial do conto.

3 – O conto é um recorte

Julio Cortázar dizia que o conto é uma foto e o romance um filme. A descrição é precisa, pois o conto é um recorte. Uma técnica possível de trabalhar no conto é a chamada In media res, que, em latim, significa “no meio das coisas”.

Literariamente se refere ao gesto de começar a história a partir de um evento importante e depois retomá-la de um ponto anterior da cronologia até retornar àquela cena.

Tal técnica ajuda a contextualizar o conflito apresentado no conto, cujas circunstâncias podem ser recordadas pelo protagonista ou apresentadas pelo narrador, mas também através das falas de outros personagens.

Dada a concisão do conto, como narrativa curta, esta técnica narrativa se mostra bastante eficaz.

4 – Conflito no conto

No conto, a construção do conflito precisa ser clara para o leitor. Como o texto é mais breve, é melhor não correr o risco de alguém ler uma história que, no fundo, é só uma sucessão de fatos, sem conflito e transformação dos personagens.

Por isso é importante pensar, mesmo na narrativa curta, em uma questão essencial do protagonista, mas também no conflito que engendra a história e que leva ao clímax.

5 – Clímax

É no clímax que o conflito atinge seu grau máximo, que o protagonista se vê diante da necessidade de uma escolha. É necessário sempre colocar o personagem principal diante de uma escolha, fazendo-o ponderar sobre as consequências de uma ou outra saída.

6 – Desfecho do seu conto

Quando um bom conto é escrito, o desfecho sempre arremata a ideia inicial que abre a narrativa e deixa em aberto o que acontecerá com os personagens após o desfecho do sei conto. Ou seja, sempre deixa os leitores pensando o que, afinal aconteceu com os personagens para além da narrativa que você construiu.

É exatamente o caso dos dois exemplos que citamos neste texto – a Raquel de Venha ver o pôr do sol e o estudante de A aposta (não vamos dar spoiler, viu). Há sempre a sensação que nem tudo foi dito, que aquele conto não encerra no ponto final.

Fazer isso não é fácil, mas é, sem dúvidas, a melhor forma de finalizar um conto.

7 – Escreva título sugestivos, não descritivos

Jamais subestime a inteligência do leitor oferecendo um título óbvio ao seu texto ficcional. Essa é a maneira mais eficaz de expulsá-lo de sua narrativa antes mesmo dele entrar nela.

Os títulos dos contos, por isso mesmo, devem ser sugestivos, oferecer pistas, chamar o leitor. Imagine você se Lygia tivesse escolhido, ao invés de Venha ver o pôr do sol colocasse em seu conto o título “passeando no cemitério”? Sem graça, né, por isso aprender com os mestres é também uma forma de aprimorar seus títulos.

8 – Uma vez escrito seu conto, descreva seu tema em uma frase – a sinopse

Sinopses servem para apresentar uma narrativa e podem ser escritas antes de se escrever um texto ficcional. Mas quando se é um escritor inexperiente, às vezes é mais fácil escrevê-la ao final da primeira versão do texto.

A sinopse serve como uma espécie de “prova dos nove”, que vai ajudar o escritor na hora de revisar o texto e perceber suas lacunas.

9 – Leia. Revise. Leia outra vez. Revise uma vez mais

Na hora de escrever prefira colocar no papel o máximo que puder de sua narrativa para evitar os bloqueios criativos. Crie suas estratégias e coloque suas ideias no papel. Mas na hora de revisar é importante fazer isso com máxima atenção.

Considere limpar seu texto na hora da revisão. Tire os excessos, as sobras, as repetições desnecessárias e não-intencionais. Depois de ter feito isso, retome a leitura de fio a pavio uma vez mais. E se for possível, leia uma vez mais para não deixar escapar nenhum vacilo.

10 – Participe de oficinas literárias

Uma boa maneira de desenvolver sua técnica em escrita criativa é participar de oficinas literárias. O Clube de Criação Literária é uma ótima alternativa para quem pretende aprofundar ou desenvolver suas habilidades em escrita criativa.

Além de acompanhamento com o premiado professor e escritor Robertson Frizero, você ainda poderá aprender também com o trabalho de outros colegas e com as trocas nas aulas síncronas sempre realizadas de forma virtual, na comodidade do seu lar. Clique para saber mais!

Oficina – O conto

Assista esse vídeo chamado a oficina O conto, com Robertson Frizero, Carina Luft e Sandro Bier.

Clube de criação literária

Clube de Criação Literária é uma dessas ações de mecenato coletivo – neste caso, em favor do escritor e tradutor Robertson Frizero. Mas, como o próprio nome sugere, é uma ação de mecenato que traz, também, uma ideia inovadora no campo da formação continuada em Escrita Criativa.https://www.youtube.com/embed/5RnCn4ZziEQ?feature=oembed

Associando-se ao Clube, o participante colabora com o mecenato coletivo e tem acesso a conteúdo exclusivo sobre Criação Literária:

  • Material didáticoartigos resenhas de livros de interesse na área de Criação Literária;
  • Reuniões on-line e debates sobre Criação LiteráriaLiteratura Mercado Editorial;
  • Vídeos, áudios, apresentações e sessões de mentoria literária em grupo;
  • Sorteios mensais de livros e serviços de mentoria literária individual e leitura crítica.

Desafio de literatura 2021: envie suas resenhas e ganhe prêmios

Conhece o Desafio de literatura 2021 do site Frizero? Você pode publicar sua resenha literária em nossa página e de quebra ganhar o livro  Dostoiévski – Correspondências (1838-1880), do escritor russo que completa duzentos anos de nascimento em 2021. A edição foi traduzida por Robertson Frizero.

Como devo escrever e enviar minha resenha

No mês de agosto, o desafio é ler um Um romance escrito por um autor português contemporâneo.

Para participar basta enviar seu texto para sitefrizero@gmail.com com o assunto [DESAFIO DE LITERATURA – NOME DO PARTICIPANTE].

Lembre-se deixar no formato .doc com a seguinte formatação: Times New Roman, 12, espaçamento 1.5, título e autor no nome do arquivo.

Caso sua resenha seja escolhida para publicação, você receberá um e-mail solicitando dados para o recebimento da premiação.


Robertson Frizero

Retrato de Robertson Frizero
Robertson Frizero

Robertson Frizero é escritor, tradutor e professor de Criação Literária. Sua primeira oficina foi lançada em 2011, e desde então se manteve em atividade contínua, entre oficinas, cursos, palestras e mentorias literárias. Foi jurado do Prêmio Jabuti de Literatura por três anos consecutivos e jurado do Prêmio Açorianos de Literatura. É Mestre em Letras pela PUCRS e especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS.

Frizero é autor de romances e livros infantis premiados, e já publicou também poesia, contos e textos teatrais. Seu livro de estreia, o infantil Por que o Elvis Não Latiu? [8INVERSO, 2010], foi agraciado com o Prêmio Crescer. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias [Dublinense, 2015], ganhou o Prêmio AGES de melhor romance do ano pela Associação Gaúcha de Escritores – AGES e foi finalista dos prêmios São Paulo de Literatura e Açorianos de LiteraturaLonge das Aldeias foi também escolhido pelo Governo Federal para distribuição à Rede Pública de Ensino no PNDL Literário 2018. Em 2020, Longe das Aldeias foi traduzido para o árabe e publicado no Kuwait e Iraque, com distribuição para todo o mundo árabe.


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Roberson Frizero é escritor, tradutor, dramaturgo e professor de Criação Literária. É Mestre em Letras pela PUCRS e Especialista em Ensino e Aprendizagem de Línguas Estrangeiras pela UFRGS. Sua formação inclui bacharelado em Ciências Navais pela Escola Naval (RJ). Seu livro de estreia, Por que o Elvis Não Latiu?, foi agraciado pelo Prêmio CRESCER como um dos trinta melhores títulos infantis publicados no Brasil. Seu romance de estreia, Longe das Aldeias, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, do Prêmio Açorianos de Literatura e escolhido melhor livro do ano pelo Prêmio Associação Gaúcha de Escritores – AGES. Foi, por três anos consecutivos, jurado do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro – CBL.

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